Linho, cânhamo, cardo, milho, folha de bananeira, urtigas e abacaxis. Esses nomes, antes relegados a jardins e hortas, estão ganhando passarelas e closets com uma força incrível. As roupas feitas com fibras naturais se tornaram uma tendência que combina conforto, sustentabilidade e estilo de maneira única.
Fibras alternativas, aliadas do planeta. Elas não só evitam o desperdício de água e recursos preciosos, como também conquistam os holofotes da indústria têxtil. Originadas de frutas como o ananás (ou abacaxis), plantas como urtigas e folhas de bananeira, essas matérias-primas estão rompendo padrões. Linho, cânhamo, cardo e até o milho também têm assumido o palco. O ponto é que isso têm feito um caminho consistente. “Existem diversos produtos têxteis no mercado que incorporam estas fibras, sozinhas ou em misturas com algodão, por exemplo”, explica a diretora do Departamento de Química e Biotecnologia do CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal), Carla Joana Silva.
Os benefícios dessas peças vão além da moda. “São mais benéficos para a saúde dos seus utilizadores, uma vez que são geralmente bem tolerados por todos os tipos de pele, mais respiráveis e mais confortáveis, em comparação com as fibras sintéticas, como o poliéster e a poliamida”, afirma.
Na linha de produção, essas fibras também se tornam aliadas do ecossistema. Elas não desperdiçam enormes quantidades de água ou recursos naturais. Por isso, estão atraindo mais e mais olhares na indústria têxtil, desbancando os "tecidos normais" de mercado. “Podemos extrair fibras de resíduos agrícolas, resultantes da produção de bens alimentares, como por exemplo de frutas (banana e ananás) ou cereais (milho), valorizando estes subprodutos como matéria-prima”. Além disso, elas são protagonistas no processo de decomposição, superando outros materiais que levam mais tempo para se decompor.
“Portugal tem sido apontado como uma referência no que diz à aplicação das melhores práticas disponíveis e pelo uso das matérias-primas mais sustentáveis”, garante. Segundo Joana, “os preços destas fibras ainda são ligeiramente mais elevados do que os das fibras convencionais”, tendo em vista que, embora haja um crescimento no mercado, “estas novas fibras ainda são produzidas numa escala reduzida, o que se traduz num custo superior”.
A tendência é clara e chegou para ficar. Cada vez mais, marcas estão apostando em fibras alternativas para dar vida às suas criações. Um exemplo vívido desse crescimento é o projeto
piloto BE@T (liderado pelo CITEVE), onde 54 parceiros, entre empresas, universidades, centros tecnológicos e outras entidades, unem forças para desenvolver novas matérias-primas, tecnologias e equipamentos de produção. Nesse ritmo, a indústria têxtil portuguesa investirá 138 milhões de euros na bioeconomia sustentável, visando transformar o cenário e criar produtos de alto valor a partir de recursos biológicos, em substituição às matérias-primas de origem fóssil.
E essa onda de transformação não se restringe a terras lusitanas, mas ganha força em todos os cantos do planeta, inclusive no Brasil. Uma revolução silenciosa, mas de impacto imenso, está moldando um novo futuro para a indústria têxtil - e para o bem do meio ambiente.
Fonte: Notícias Magazine
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